HISTÓRIA DE JUNIOR II - "MINHA MÃE"
Bem, a vida para minha genitora, após o falecimento do meu “irmãozinho”, não
mais existia, pois ela disse-me que ninguém sabia a dor que uma mãe sofre
com a perda de um filho. E que NADA mais importava para ela.
Eu sempre, ao final da noite, antes de dormir, quando nos encontrávamos para
conversarmos, procurava acalentá-la.
Os problemas de saúde que minha mãe tinha se agravaram, diante da sua
desesperança e isto tudo nós víamos e tentávamos soerguê-la com amor e nada a
fazia levantar a cabeça para a vida.
Diversas vezes ela me indagava: “Será que eu vou morrer, meu filho?”. Eu
respondia que NÃO, de forma alguma, a Senhora é uma mãe maravilhosa e
necessitamos de sua presença entre nós!!! E sempre nos abraçávamos e ela
chorava.
Após três anos, minha mãe internou-se, com problemas respiratórios, ficou na
UTI (Unidade de Tratamento Intensivo), mas se recuperou.
A partir daí, até para ir próximo ao trabalho, que era na esquina da Avenida à
qual morávamos, ela precisava que fosse levada de carro.
Uma amiga dela e que eu também conhecia, disse-me: ”Que luxo, vai de carro para
a Escola...”. Eu a respondi que ela não sabia dos motivos e que ela pedisse a
Deus que nunca estivesse passando pela situação à qual minha mãe estava se
encontrando. E a indagadora, surpresa, recolheu o seu olhar e, ao mesmo tempo,
baixou a cabeça.
Minha mãe necessitou se ausentar do seu trabalho (ela lecionava) inúmeras vezes
e, nesse tempo, ela tinha uma “amiga”, vizinha, onde ambas frequentavam as
residências de cada uma.
Essa “amiga” era Vice-Diretora da Escola mencionada e dizia-se cumpridora dos
mandamentos de Deus e sempre se dizia fervorosa Católica, ficava fazendo todas
as atividades religiosas, até no prédio onde residíamos (e que hoje ainda me
encontro). Ela fica, com outras devotas de Santa Maria, colocando a sua imagem
uma vez por semana em uma residência e durante uma semana, reúnem-se nesse
local para fazer orações.
E essa “amiga”, em um dos dias onde minha mãe estava afastada das aulas, por
problemas de saúde já ditos, começou a me questionar onde estava a minha mãe,
se ela iria sair e outras coisas tais. O que deixou transparecer é que ela
estava duvidosa da situação de enferma da minha mãe, justamente a sua “amiga”,
que deveria ir visitá-la, apoiá-la. Não a vi desejando “melhoras” para minha
mãe e, sim, ao contrário, investigando se minha mãe estava ou não mentindo,
usando da minha inocência, à época.
Certo dia resolvi escrever, reproduzindo o que estava sentindo, quando a minha
mãe retornou, um ano após, à UTI (Unidade de Tratamento Intensivo):
“MINHA MÃE
Este momento está sendo muito difícil
De enfrentar o ambiente pesado
Penetrando um ar estranho em meus pulmões
Minha mãe está enferma
Em situação vexatória
Já está, inclusive, querendo assinar um cheque
Para que o Estado não fique com o seu dinheiro
Quem me contou foi “painho”
Inclusive, ela não estava conseguindo enxergar direito
Ainda, não perpetrou o seu ato de assinar
Ela estava com dores de estômago nesta manhã
Arritmia cardíaca
Pouca oxigenação no corpo
Chorando...(estava com os olhos cheios d′água)
Com um tubo de oxigênio no nariz
Dentro de mim tenho esperança
Mas sonhei um dia como um fato
A morte por esta época
De um dos meus pais
Já se foi o meu irmãozinho
Não quero que, agora, minha mãe
Se separe de mim
Fique no ostracismo e no quase esquecimento
Garanto que isto não acontecerá
Mas as agruras e virtudes da vida
Desviará, na maioria das vezes
O meu pensamento de ti
Oh, destino!!!
Não tragues a minha genitora
Oh! Deus meu e nosso
Não nos desampare
Sei que não adianta questionarmos agora
E a vida continua.”
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Já nos dias seguintes, ninguém podia mais entrar na UTI, só podia avistá-la
pelo vidro.
E doze dias após esse escrito acima, antes de fazer nova visita à minha mãe, eu
estava no estacionamento do prédio residencial, sentado ao volante do meu carro
e naquele momento fiquei tomado por uma força estranha e resolvi escrever outra
carta. E estava assim redigida:
“Minha Mãe!
Estamos todos à sua espera e tristes por não a ter ao nosso lado. A Senhora é a
nossa felicidade. Se está com vida, porque não lutar por ela? Jesus é que
determina o momento de irmos embora para outro lugar, para outra dimensão.
Tenha força, pois estamos orando pela Senhora. Não queira nos deixar, pois será
uma grande perda e irreparável. Vença esta fase. O que a Senhora quer que nós
façamos? Quer dar um recado? Se quiser, escreva para nós ou transmita algum
sinal. Já fomos inúmeras vezes para aí e só pudemos vê-la com uma certa
distância, pois não pudemos entrar no recinto e a Senhora não pôde nos ver.
Estamos também sofrendo muito. O São João não foi e nem será alegre para nós
sem a sua alegria fé e vitalidade.
Portanto, reaja, pois a Senhora pode!!!!”
E foi nesse dia de 24 de Junho que eu me dirigi ao Hospital e ao chegar,
deparei-me com aquela visão que nunca esqueço e jamais esquecerei: a sua cabeça
virada para o lado, morta.
Minha mãe, nunca mais a Senhora sairá da minha lembrança e saiba que a Senhora
foi e sempre será o meu bem mais precioso. Eu a amo e sempre a amarei e que
esteja em paz.
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